Medicina do Sono
Dormimos em média um terço da nossa vida. Iniciamos a vida dormindo dezesseis horas e na sociedade ocidental, no indivíduo adulto, a quantidade de sono nas vinte e quatro horas diárias varia em média de sete a oito horas. O sono apresenta várias funções: restaurativa (trazer o organismo de volta à condição em que se iniciou o dia após a jornada de obrigações que se tem no decorrer dele), controle da temperatura corporal, consolidação da memória e aprendizado e repouso para o organismo. Além disso, alguns hormônios são fortemente influenciados pelo sono, são eles: insulina, que controla as taxas de glicose no sangue, leptina e grelina, que juntos controlam o apetite, hormônios da tireoide, corticoides produzidos pelo organismo, hormônio do crescimento, prolactina, que controla a produção de leite, dentre muitos outros, explicando porque quem não dorme bem tem mais tendência a engordar, aumentar as taxas de gordura e açúcares no sangue, não crescer adequadamente, não conseguir amamentar bem, ter pressão arterial mais alta, ter maior risco de doenças cardíacas e vasculares, destacando-se acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio, impotência sexual, dentre outros problemas.
Uma vez que são tantas e tão importantes as funções do sono, fica fácil entender a existência de várias doenças relacionadas ao sono: ronco e apneia do sono, insônia, bruxismo do sono, narcolepsia, parassonias (sonambulismo, terror noturno, falar dormindo, pesadelos,etc), movimentos periódicos dos membros durante o sono, síndrome das pernas inquietas, dentre muitas outras.
A Medicina do Sono estuda as funções do sono, os seus distúrbios e o impacto destes distúrbios na vida dos indivíduos. Entender o sono, seus processos e funções, é a espinha dorsal da medicina do sono, um ramo que reúne as contribuições multidisciplinares de diversas especialidades médicas, tais como a psiquiatria, odontologia, pediatria e otorrinolaringologia. A Medicina do Sono engloba todas as questões relativas ao comportamento humano durante o sono, em contraste com o comportamento típico do estado de vigília.
A Medicina do Sono é relativamente jovem. Como uma disciplina formal, ocorre no início do século XX, especificamente nos anos trinta, marcada por um progressivo desenvolvimento tecnológico, que permitiu uma abordagem mais objetiva para o estudo do sono longe dos primeiros conceitos filosóficos.
Estudos da atividade elétrica durante o sono levaram à introdução de técnicas depolissonografia, que representa o padrão-ouro em medicina do sono para o diagnóstico e acompanhamento de pacientes com distúrbios do sono. O exame permite testar durante o sono os potenciais elétricos da atividade cerebral, dos batimentos cardíacos, os movimentos dos olhos, a atividade muscular, o esforço respiratório, a saturação de oxigênio no sangue, o movimento das pernas e outros parâmetros.
O sono é uma função biológica fundamental em nossas vidas. Vários estudos já demonstraram sua grande importância, mas ele é ainda mais indispensável para os adolescentes, pois é durante o sono que o organismo produz alguns hormônios. Entre eles, o mais importante para os adolescentes é o do crescimento, o GH, secretado no primeiro terço da noite tanto nas crianças quanto nos adultos. O GH é essencial para o crescimento dos ossos e músculos. Então, a antiga lenda que a criança cresce enquanto dorme já é um fato comprovado. Foi demonstrado cientificamente que o adolescente passa por alterações hormonais que fazem com que o seu ciclo de sono fique alterado. Assim, é comum o adolescente sentir sono durante o período da manhã e tornar-se alerta a partir do meio da tarde. A falta de sono e fadiga também podem causar várias alterações do comportamento. Pode levar a alterações de humor e uma sensibilidade maior. Problemas crônicos de sono podem ter impacto negativo no funcionamento da criança e da família. Tanto a qualidade como a quantidade adequada de sono da criança são fundamentais, pois geram consequências ao seu funcionamento físico, emocional, cognitivo e social. Além disso, problemas de sono podem exacerbar transtornos médicos, psiquiátricos e de desenvolvimento do pequeno. Crianças e adolescentes com sono inadequado podem apresentar sonolência diurna excessiva, cansaço, dificuldade de concentração, aprendizado e mal humor. Crescem menos, são mais sedentários e mais propensos à obesidade.
Desta forma, é preocupante o dado de que as crianças hoje em dia não estão dormindo o suficiente. Fatores da atualidade como a menor supervisão dos pais, violência, envolvimento excessivo das crianças em atividades acadêmicas, sociais e atléticas, rotina de trabalho dos pais, interferência de itens de mídia (como televisão, internet, vídeo games e celulares), são conflitantes com uma quantidade suficiente de sono e até mesmo com a qualidade do mesmo.
As doenças do sono nas crianças têm sintomas e sinais específicos que se modificam com o crescimento: os problemas relacionados com a maturação do sistema sono-vigília são comuns nos primeiros anos de vida; nas crianças e nos adolescentes os problemas relacionados com a privação crônica de sono têm consequências possivelmente mais graves que no adulto; as parassonias são em geral mais frequentes na infância, tendendo a desaparecer na idade adulta. Um dos aspectos característicos do sono da criança é a sua repercussão sobre o próprio e sobre os pais ou cuidadores, sendo, quando perturbado, uma causa frequente de desestabilização de dinâmica familiar.
O aumento da expectativa de vida, o crescimento da população de idosos no mundo e a tendência do aumento da ocorrência de distúrbios de sono nesta fase da vida fazem com que este campo tenha crescente importância na Medicina do Sono. Estima-se que estes transtornos afetem em torno de 50% das pessoas com mais de 65 anos, ou seja, a maioria apresenta alterações na qualidade do sono com dificuldades em começar a dormir, sono entrecortado, fragmentado ou muito superficial. Nos idosos não são raros os casos de inversão do dia pela noite (acordado à noite e sonolento de dia).
Os especialistas têm controvérsias sobre quais alterações do sono do idoso são normais e aquelas decorrentes de doenças comuns neste período da vida. Mesmo nos idosos que não apresentam problemas de sono, doenças neurológicas ou psiquiátricas, podem ser observadas modificações no seu hábito de dormir consideradas normais para a idade.
A insônia no idoso precisa de uma avaliação criteriosa de suas causas, evitando-se a automedicação, que pode se tornar perigosa ao mascarar sintomas de outras doenças e devido aos efeitos colaterais dos medicamentos usados.
A prevalência da síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono aumenta com a idade, tanto por se tratar de uma condição progressiva, como por alguns fatores do próprio envelhecimento contribuírem para sua instalação. Essa síndrome é caracterizada pela obstrução parcial ou total das vias aéreas durante o sono, e os sintomas mais comuns são ronco, episódios visíveis de interrupção da respiração e sono excessivo durante o dia. A fragmentação da arquitetura do sono provoca cansaço, dificuldade de permanecer acordado durante atividades sedentárias, como conversas telefônias ou dirigir automóvel, irritabilidade, depressão, redução da libido, impotência sexual e cefaleia pela manhã. A síndrome está associada a aumento na incidência de infartos do miocárdio, derrames cerebrais e arritmias cardíacas. Hipertensão arterial é encontrada em 70 a 90% dos que sofrem de apneia do sono, e a mortalidade entre os portadores da síndrome é significativamente mais alta entre os que não recebem tratamento adequado.
A síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono também pode ser encontrada na faixa pediátrica. Cerca de 10% das crianças roncam, mas somente cerca de 1 a 3% das crianças que roncam têm apneia do sono. Amígdalas e/ou adenoides grandes representam o principal fator de risco para a síndrome em crianças. Outros fatores incluem: obesidade, problemas de tônus muscular, síndromes genéticas, anormalidades da face ou da garganta, problemas no controle da respiração e história familiar.
Dessa forma, dormir bem é muito importante para se manter a saúde, e jamais se deve encarar o sono como perda de tempo como muitas pessoas fazem. Se você tem problemas com seu sono, não perca tempo, procure seu médico.